Quando eu vi o trailer pela primeira vez, em meados de 2021, logo comentei com um amigo “eu vou jogar no lançamento e tenho certeza que vai ser o meu título favorito daquele ano, independente de quando sair”. Quase dois anos depois finalmente posso falar com segurança, o Guilherme do passado acertou em cheio! Sea of Stars é uma obra de arte que se inspira em clássicos consagrados, ao mesmo tempo em que cria a sua própria identidade, resultando em um excelente RPG com o melhor dos dois mundos.

Desenvolvido pelo Sabotage Studio, Sea of Stars se passa no mesmo universo de The Messenger, outro título de grande sucesso do estúdio, só que alguns milhares de anos antes. Aqui acompanhamos a história de Zale e Valere, dois Guerreiros do Solstício que lutam pela paz e ordem, empoderados pela energia do sol e lua, respectivamente.

O jogo conta a história do conflito milenar entre Fleshmancer, responsável por soltar diversos demônios no planeta, causando dor e desgraça na vida de inocentes, e os Guerreiros do Solstício, a última linha de defesa da humanidade. Só que ser um guardião da paz não é fácil e até um pouco ingrato. Para começar não basta querer, pois apenas crianças que nascem no eclipse solar e lunar são destinadas a assumirem esse papel. Além disso, o caminho desses lutadores é uma vida bem difícil, repleto de regras, treinamentos e perigos, sem garantia alguma de que conseguirá acabar com o conflito de uma vez por todas. Então enquanto alguns vem essa missão como um propósito a cumprir, outros questionam porquê foram escolhidos sem direito de escolha.

Como é possível imaginar, a história é bastante previsível. Há alguns momentos que pegam o jogador de surpresa, seja por ações inesperadas ou pelo background trágico de uma personagem, mas em geral é bem fácil entender o rumo dos acontecimentos. Não que isso seja um problema, pelo contrário, é super divertida e se desenvolve num ritmo muito bom.

O combate, por sua vez, é o ponto alto do jogo, apresentando um ritmo rápido, dinâmico e estratégico. Inspirado em clássicos como Crono Trigger ou Super Mario RPG, Sea of Stars traz um sistema de batalha por turno individual em que cada personagem realiza sua ação ininterrupta, seja ela um ataque, magia ou combo. Além de planejar o melhor tipo de ataque naquele momento, o jogador precisa ficar atento aos ataques especiais dos inimigos sinalizados por um contador (mostrando em quantos turnos aquela ação irá acontecer) e uma série de indicadores de ataque (necessários para evitar), adicionando uma dose extra de profundidade.

O combate também é repleto de pequenos “quick time events” em que acionar o botão de ação no momento certo amplifica o efeito da ação atual. Dessa forma é possível adicionar um segundo hit no ataque, recuperar mais HP na magia de cura ou até reduzir o dano no bloqueio, além de recuperar 1 de MP para cada “QTE” realizado com sucesso.

Se somarmos todas as possibilidades de ação, temos um combate altamente estratégico e divertido. Por mais que o jogador foque em ataques especiais para anular as ações dos inimigos, haverá centenas de momentos em que não teremos MP, Combos ou mesmo velocidade para concluir a sequência de ações, restando apenas o preparo e antecipação para controlar os danos, tornando cada encontro com chefe único e imprevisível.

Em geral os combates em Sea of Stars são fáceis, principalmente por ser possível recuperar MP acertando ataques e bloqueios, e pelo fato dos personagens apenas ficarem temporariamente incapacitados quando seu HP chega a zero. Foram poucos os momentos em que realmente sofri para concluir uma luta; o que acontece na verdade é um jogo de estratégia e paciência, anulando ataques especiais, recuperando MP em ações comum e acumulando pontos de Combo ou Suprema, para lançar os ataques devastadores que causam grande estrago.

Por desejar um desafio um pouco maior, zerei sem o uso de relíquias, que são acessórios opcionais utilizados para facilitar alguns aspectos do jogo. Seus efeitos variam entre recuperar todo HP/MP após cada combate, ganhar mais EXP nas lutas, desconto nas lojas, etc. Não são efeitos que quebram o game, mas dão uma evidente ajuda ao jogador, ideal para aqueles que querem apenas curtir a história sem travar nos combates.

Também não é necessário nenhum grinding de EXP, comum entre os RPGs atuais. Zerei o jogo por volta do level 23, bem longe do máximo que é possível alcançar (30), sem nenhum problema. Um ponto interessante do sistema de leveling é a possibilidade de personalização, já que a cada “level up” é possível adicionar um ponto extra em algum atributo, maximizando pontos fortes ou cobrindo fraquezas. No meu caso, e até como recomendação à novos jogadores, priorizei aumentar MP e HP, sempre que possível. Isso porque adicionar bônus ao ataque, não passa a sensação de se sentir mais forte. Diferente de aumentar o MP, em que é possível fazer ataques mágicos com muito mais frequência.

O título também traz diversas atividades extras e opcionais que tornam o mundo ainda mais vivo e complexo, além de aumentar substancialmente o tempo de jogo. É possível coletar ingredientes para criar os próprios itens de recuperação de vida, pescar em diferentes regiões (para coletar ingredientes e habilitar reliquias extras), lutar contra chefes opcionais, realizar diversos puzzles para encontrar itens opcionais, descobrir e trocar conchas por itens, gerenciar uma vila e até participar em um excelente minigame de azar, o Wheels (ou Rodas, em português).

Sea of Stars conta com uma excelente e envolvente trilha sonora, que encaixa perfeitamente em todos os momentos do jogo. O que não é uma surpresa, já que um dos compositores é ninguém menos que Yasunori Mitsuda, um dos responsáveis pela trilha sonora de Chrono Trigger (juntamente de Nobuo Uematsu).

Sea of Stars já está disponível para PC, Switch, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S e principalmente, pelo Game Pass. Ah, e não se preocupe, pois o jogo foi completamente traduzido e localizado para o português do Brasil.